Mulher-Flor

Comecemos pela flor: uma estrutura frágil, de pétalas amarelas.

A flor cresceu entre as pedras da calçada. Desenvolveu-se, entre o solo inóspito, e os pesadíssimos blocos calcários. Uma incongruência. Uma vitória da natureza sobre a civilização.

A Mulher regava a flor. Olhava-a diariamente, falava-lhe, esperava que ninguém a pisasse ou arrancasse. Era um acto de fé.

*

A flor crescia, todos os dias, mais um pouco.

As pessoas, no bairro, ignoravam-na. Era uma coisa insignificante, rasteira; erguida do chão, mas não o suficiente para lhes causar uma impressão.

Para a Mulher, aquela flor era uma forma de o mundo dizer que o que é belo e frágil pode encontrar um caminho entre as pedras e prosperar.

A Mulher apontou: flor = resiliência. Sorriu.

*

Foi num dia igual a qualquer outro dia que a flor cresceu tanto que as pessoas começaram a reparar nela: começaram a dar-lhe atenção. A flor tinha mais de um metro de altura e as suas pétalas criavam uma coroa amarela – tão amarela como o próprio sol. 

Os transeuntes desviavam-se dela.

Ninguém lhe ficava indiferente. Nem as pedras, que agora se erguiam, cedendo à força exercida pelas longas e robustas raízes. 

O tempo passava e a flor prosperava.

A Mulher regava-a e sorria, feliz. Toda ela brilhava. 

A Mulher e a flor eram apenas uma.

A Mulher e a flor nunca cederam aos caprichos sociais, à transparência, às pedras no caminho.

A Mulher e a flor são apenas uma. 

A Mulher-Flor continua a prosperar. 

Uma definição: Mulher = Flor = Resiliência. 


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