Na mesa do café eu teimava em olhar o jeito fugidio com que contavas as pedras da calçada. O asfalto líquido arrefecia na chávena até encontrar o equilíbrio térmico com o nosso amor condenado. Falaste em rotina; eu falei noutra coisa qualquer: uma nuvem em forma de gato, viste? (Claro que não. Estavas demasiado ocupada a chorar todas as lágrimas.) Não sei o que se passou entre nós. Alguém deve ter cortado a linha e as palavras acabavam por cair no oblívio. Repetiste a palavra rotina (como quem grita perigo até chegar aos ouvidos certos), mas eu ainda pensava na nuvem e no gato e no jeito que me dava que o amor tivesse sete ou nove fôlegos e não morresse de hipotermia só porque escolhemos olhar para cima, em vez de olharmos em frente.
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